O Hiperativo e Os Depressores (um mito)

Tomei conhecimento que uma professora da UFPE durante aula sobre desenvolvimento infantil fez rápido comentário sobre a Ritalina, dizendo que este era um depressor do sistema nervoso central. Na verdade, a professora está bem equivocada e ajuda a perpetuar um mito de que TDAH se trata com remédios depressores do SNC. Na verdade, o TDAH é tratado com ESTIMULANTE. Isso mesmo. Crianças com TDAH sofrem na verdade de falta de neurotransmissores que possam "informar" ao cérebro que tudo está "OK" e acabam tendo dificuldade de concentração e de comportamento adequado. Os estimulantes fazem com que o cérebro possa fabricar e captar melhor essas substâncias. Uso de depressores só poderiam piorar o paciente TDAH. Basta uma rápida leitura na BULA da Ritalina e esta é muito clara quanto ao assunto: "este medicamento é um estimulante do sistema nervoso central" e ponto final!

O Hiperativo e Os Pais

A psicóloga Patrícia Barros, no terceiro capítulo do livro Terapia Cognitivo-Comportamental (Casa do Psicólogo, 2012) faz referencia à dificuldade quanto a participação familiar no tratamento de crianças com TDAH. Para a autora, como o transtorno é de ordem genética, há grande possibilidade de pelo menos um dos pais sofrer do mesmo problema. Para tanto é preciso manter uma agenda organizada e jamais desistir do tratamento da criança. Os pais precisam perceber a necessidade da continuidade do tratamento e nunca interferir negativamente no mesmo. Às vezes, o problema dos filhos é um reflexo do comportamento inadequado dos pais e para tratar das crianças torna-se também necessário ter um tratamento familiar. Os pais precisam estar cientes de que não é possível uma melhora cognitiva e comportamental da criança com TDAH se os pais mantiverem os mesmos costumes de sempre. O tratamento precisa ser total.

O Hiperativo e a Interferência Preventiva

Existe uma técnica chamada “interferência protetora e preventiva” ( Redl & Wineman, 1986)  que é de grande importância para trabalhar com crianças hiperativas.  Por vezes as atividades com estas crianças saem do controle. Os pais ou professores devem pensar anteriormente à realização das atividades em quais os riscos iminentes de uma determinada atividade e estarem preparados para interferirem quando necessário antes que tal atividade debande para o incontrolável. É preciso pensar a atividade para crianças que vão seguir as normas e para aquelas que vão transgredir as normas. Certa vez propus a atividade de pintarmos uma figura com tinta guache numa folha em branco. Deste o inicio estive preparado pois algumas crianças poderiam começar a jogar tinta uma na outra ou se melecar toda de tinta. Minha atitude preventiva foi a de diminuir o grupo pela metade, separá-los e manter uma distancia grande um do outro, dar as tintas uma por vez e deixar claro que se algo do tipo acontecesse tal criança teria de deixar o grupo. E é claro, estava a todo tempo preparado para interferir ainda no início de qualquer brincadeira que pudesse fugir do controle.

O Hiperativo e a Agressividade Infantil

Crianças hiperativas por vezes podem ser agressivas. Este é um dos motivos que mais levam os pais a procurarem ajuda. O ódio demonstrado nas crianças que são impedidas de realizar certas atividades ou não ganham aquele presente que ele quer a todo custo, muitas vezes causam espanto aos pais. Para os autores Fritz Redl e David Wineman (O tratamento da criança agressiva,1986) é preciso estar atento à manipulação que muitas vezes estas crianças tentam fazer dos pais. Um exemplo disso é quando uma criança realiza um pequeno furto e ao ser perguntado pelos pais se ele o fez, ele nega mesmo sendo flagrado com o objeto roubado. Esta criança aguarda que os pais o confronte, tome o objeto e a partir daí manipula a situação para virar uma vítima dos castigos e punições dos seus pais.

O hiperativo e a idade

Com a idade nós hiperativos conseguimos nos "controlar". Muitos acabam aparentando inclusive uma enorme calma. Hoje escuto muita pergunta do tipo: "mas você é hiperativo? Assim tão calmo?" Não me imagino com 31 anos correndo sem sentido e quebrando tudo como quando era criança, eu simplesmente agora tento sublimar minha energia. Isso acontece realmente com a maioria dos hiperativos. Esse controle é normal e bom. Por isso é comum pensar que o TDAH acaba quando crescemos. Eu não acredito que acabe, mas vejo que há uma evolução gradual e que te faz conseguir ficar quieto. Mas quando uma pessoa com TDAH cresce, a agitação passa a ser mais mental do que física e isso também pode ser um problema.

Crianças Hiperativas???

Até os 6 anos de idade vc não deve nem sequer considerar a hipótese de achar que uma criança é hiperativa. Isso parece radical? Mas tem que ser, vou explicar o porquê. Existem crianças pequenas sendo tachadas de hiperativas e se você cresce com o mundo ao seu redor achando que você tem um problema, tudo o que você faz é atribuído a este problema e você acabará sendo, cedo ou tarde aquilo que os outros falam. Então, amigos, nunca, sob hipótese alguma, falem em TDAH, hiperatividade ou qualquer problema do tipo perto de uma criança ou de sua família, tachando aquela pobre criança e marcando a vida dela para sempre. Se ela for, isso vai aparecer, na hora certa e diagnosticada por um especialista.

O hiperativo e a desistência

Um hiperativo sempre vai iniciar algo que parece ser a melhor coisa da vida dele. Nesse momento todos pensarão: agora ele encontrou o caminho certo. Porém nossa cabecinha parece estar programa para nos fazer desistir sempre. Tentamos encontrar um motivo qualquer que seja para desgostar daquilo que estamos fazendo e simplesmente desistimos. Atualmente tenho lutado contra isso. A carga psíquica que te faz querer desistir é impressionantemente forte. Sou capaz de sentir quando ela passa pelo corpo. Acho que uma das grandes atividades que o hiperativo tem que se embutir é de lutar contra essa energia, tentar tomar decisões ao longo do tempo e não em um único momento.  E nunca, nunca desistir. Sempre em frente, amigos!!!